Ouvir a Notícia
Em 1º de agosto de 1872, as paróquias de todos os cantos do Império do Brasil mandaram às casas das redondezas formulários que deveriam ser preenchidos pelos chefes de família e depois devolvidos, para que fosse feito o primeiro censo demográfico da história do Brasil.
Refletindo as estruturas do Império recém-independente e sob o governo de Pedro I, o censo revela uma sociedade predominantemente rural e escravocrata.
Lençóis Paulista não ficou de fora.
Nas imagens a seguir, você confere um resumo dos dados da “Parochia N. S. da Piedade dos Lençóes”, dados fundamentais para entender nossa história social e econômica.
Lençóis Paulista, na época ainda a Villa de Lençóes, era pequena, contando com 5814 habitantes. Destes, 629 eram pessoas escravizadas. O censo de 1872 foi o único censo feito com a escravidão ainda legal no Brasil.
50,99% homens (2644)
Destes, 12,75% eram escravizados (337)
49,01% mulheres (2541)
Destas, 11,49% eram escravizadas (292)
Foram consideradas quatro etnias no censo, provavelmente pela relevância cultural e econômica dos seus indivíduos.
Em Lençóis, os brancos lideraram, contrariando o que se observou no contexto nacional, onde os pardos formaram maioria (38,3%).
* Neste contexto, o termo “caboclo” quer dizer pessoas indígenas e seus descendentes.
Com a grande maioria dos seus habitantes trabalhando na lavoura, a pequena Lençóes já dava sinais de desenvolvimento econômico claro. Veja as profissões que foram contabilizadas.
As profissões mais exercidas:
Lavrador - 2012
Serviço doméstico - 831
Costureira - 217
Operário em tecidos - 87
Comerciante, guarda livros e caixeiro - 53
As profissões liberais incluiam religiosos, juristas, artistas, funcionários públicos e outras profissões que não dependiam do vínculo empregatício com outro cidadão.
Em Lençóis, não foram contabilizados profissionais das seguintes categorias, que constavam no questionário:
Religiosos
Juízes
Procuradores
Médicos
Cirurgiões
Artistas
Uma importante porção dos lençoenses trabalhava nas indústrias locais, seja confeccionando roupas, na construção civil ou na marcenaria. No total, 185 pessoas trabalhavam como operários.
Havia também um comércio bem desenvolvido com um foco grande no vestuário. Os trabalhadores do campo, principalmente escravizados, também eram significativos.
A pirâmide desenha uma sociedade jovem, em crescimento, com alta taxa de natalidade e expectativa de vida relativamente baixa. A predominância de jovens indica uma população em expansão, típica de uma economia agrária e pré-industrial.
O nível de instrução era precário, e a taxa de matrícula nas escolas não pintava um futuro muito diferente. 18,14% das pessoas sabiam ler e escrever, e 16,27% das crianças frequentavam a escola.
A situação educacional no interior paulista refletia as características da sociedade agrária. A província de São Paulo, por isso, tinha uma das taxas de alfabetização mais baixas do país, com apenas 11,5% da população livre sabendo ler e escrever. No cenário nacional, a porcentagem era de 17,4%.
Os motivos para isso eram vários: a maioria da população vivia longe, havia poucas escolas, e as que existiam não tinham infraestrutura adequada. Muitas vezes, a educação ficava por conta das famílias ou da Igreja Católica (religião oficial do Estado).
O governo imperial e a elite agrária (que dominava a política) priorizavam a ordem pública e o desenvolvimento econômico em detrimento da educação. A primeira tentativa de organizar o ensino primário no Brasil foi a Reforma Couto Ferras, em 1854, cuja implementação foi lenta e desigual, especialmente no interior.
Uma das informações que o Império colheu no censo, foi a da origem das pessoas, considerando a expansão do território nacional e a vinda de imigrantes europeus ao Novo Mundo.
A presença de estrangeiros indica que a região já atraía imigrantes, algo que se intensificaria especialmente após a abolição da escravidão em 1888.
LOCAL |
ALMAS |
|
LIVRES |
ESCRAVOS |
|
Sergipe |
6 |
… |
Bahia |
60 |
… |
Rio de Janeiro |
24 |
… |
São Paulo |
4.765 |
515 |
Paraná |
52 |
… |
Santa Catarina |
2 |
… |
Rio Grande do Sul |
5 |
… |
Minas Gerais |
125 |
… |
Goyaz |
91 |
… |
Matto Grosso |
38 |
… |
Africanos |
5 |
114 |
Inglezes |
1 |
… |
Orientaes |
1 |
… |
Portuguezes |
10 |
… |
Por fim, o censo de 1872 apresenta uma de suas maiores limitações conceituais e metodológicas: a escolha das deficiências representadas. Por causa disso, é difícil correlacionar deficiências e questões de saúde mental atuais com os dados da época.
DEFEITO |
Homens livres |
Mulheres livres |
Homens escravizados |
Mulheres escravizadas |
Cégos |
11 |
3 |
3 |
… |
Surdo-mudos |
7 |
5 |
… |
1 |
Aleijados |
29 |
6 |
4 |
… |
Dementes |
3 |
3 |
… |
… |
Alienados |
1 |
1 |
… |
… |
Cegos são assim chamados até hoje. Os surdos eram considerados “surdo-mudos”. Mas o que são as outras categorias?
Aleijado referia-se a pessoas com deficiências físicas que afetavam a mobilidade, limitavam habilidades motoras ou causavam deformidades visíveis.
Demente era utilizado para descrever pessoas com distúrbios mentais ou cognitivos que afetavam a capacidade de raciocínio e comportamento.
Alienado descrevia pessoas que sofriam de doenças mentais graves ou transtornos psiquiátricos. O termo "alienação" refletia a ideia de que essas pessoas estavam "fora de si" ou desconectadas da realidade.
Você pode acessar os dados colhidos no censo e publicados pelo estado neste link.
Publicado em: 27 de março de 2025
Publicado por: Comunicação
Cadastre-se e receba notícias em seu email
Categoria: História da Câmara